Pensamentos sobre Set & Setting

Este é um texto sobre uma sessão que tive e que me inspirou a escrever sobre Set & Setting numa sessão BDSM.

Recebi este submisso na minha masmorra. E foi estranho desde o início, se é que se pode dizer que algo aconteceu.

Assim que o vejo chegar até mim, eu à porta de entrada em posição quase militar, prestes a colocar-lhe uma venda nos olhos, para entrarmos na masmorra. Ao chegar lá dentro, já ele transpirava bastante… e após lhe pedir para se colocar de joelhos, vejo a expressão aterrorizada dele.

Perguntei-lhe que cara era aquela que ele tinha, e aí confessou que não estava confortável… E que talvez não fosse durar toda a sessão.
Era a sua primeira vez com uma Dominadora Profissional.

A masmorra, um local escuro, onde apenas o meu trono está iluminado por um candeeiro.

Apresento-lhe as Safe-Words com que gosto de trabalhar.
E coloco-o em posição de quadrúpede.
Ao começar a roçar a minha vara de madeira pelo seu corpo, percebo ser muito rígida a sua carapaça de proteção. E penso: “Vou mandá-lo retirar a roupa”.

Por isso pedi-lhe que se voltasse a ajoelhar.
E foi aí que vi o seu estado…
Transpirava mais que um alambique!

Decidi dar a sessão por terminada.

~

E então comecei a tentar compreender o que estava ele a sentir.

Confessou-me que o espaço não o deixava relaxar, e temia ficar “estragado” para os restantes dias.
Havia sonhado com este momento durante anos… O.O
E o momento não se sentia ser o certo.

À falta de conforto, devido ao local não ser reconhecível, ou considerado confortável, como um quarto de hotel p.e.
Ali ficamos a conversar.

Eu no meu Trono
Ele de joelhos no chão e mãos atrás das costas.

~

Toda esta situação me faz pensar sobre o quão importante é estarmos confortáveis com o Set & Setting de uma sessão. E como é importante ter a auto-consciência de como nos sentirmos no momento e/ou mais tarde.

Tal como uma Trip Psicadélica, é muito importante estarmos confortáveis com toda a situação envolvente. Para que o nosso corpo e a nossa mente possam relaxar e se entregar em totalidade à experiência e o que ela nos poderá trazer.

O facto de Eu, como autoridade máxima neste cenário, ter reagido de forma tranquila e compreensiva, tranquilizou-o nitidamente. Quis perceber como se sentia e qual a visão com que teria sonhado durante tanto tempo.

Para mim, é um dado adquirido aquilo que falo. Para irmos para situações fora da nossa zona de conforto, é realmente necessário a confiança e à vontade.

Faz-me pensar na quantidade de outros iniciantes que conheci e a forma como os vi crescer em si mesmos. E, simultaneamente, também sei que cada um tem o seu tempo e os seus processos (às vezes dolorosos, físicos e psicológicos) para atravessar e chegar até onde tencionam ir.

Penso também no misto de frustração e felicidade. Frustração porque é um sentimento estranho quando estamos a uma unha de fazer o que sempre sonhamos, e a felicidade de termos tomado o passo. Mas o que acontece também quando planeamos muito alguma coisa, é que ficamos rígidos na forma como o queremos ver a acontecer.

Quais os vossos pensamentos?